Ícaro

Medo, ansiedade, desespero, revolta, necessidade, desencanto.

Agora, o que nos guia é algo muito forte.

Eu não sei o nome disso.

Chame do que quiser aquilo que hoje toma conta de você.

A verdade é que não vivemos dias normais.

Já não somos mais os mesmos.

E, se eu não já me reconheço mais, que dirá você.

O calo apertou, e dessa vez foi pra valer.

Nossa ignorância se somou.

Sonhos foram adiados de novo.

Músicas desafinam quando chegam ao coração.

Casas vão se consumindo, cômodo a cômodo.

Vamos assumir: controlar a situação nunca esteve em nossas mãos.

Nem nunca estará.

Em tempos tão sombrios, nos apegamos às muitas ausências.

Ao sentimento de culpa.

À saudade do toque, do gosto, do afago.

Os dias parecem tão longos que não sabemos se vamos suportar.

As noites são como corredores que nos roubam o sono, imensos e taquicárdicos.

Sem perceber, estamos nus e sem nada a oferecer.

Somos como Ícaro indo embora de Creta pelo ar, confiando em asas tão frágeis.

Lá no fundo, eu já esperava que isso iria acontecer.

O momento em que a incerteza do amanhã nos despertaria pra coisas tão urgentes.

Eu só não estava preparado.

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