Café

De segunda a sexta, em horário comercial.

Minha droga pessoal.

Um tipo estranho de conforto, quase que um abraço líquido. 

Quente. 

Aromático. 

Inesquecível.

Eis que me vejo, em uma quarta-feira chuvosa e fria, caminhando pelo mercado.

Como eu vim parar aqui, eu não sei exatamente.

Acho que tinha algo a ver com abastecer a fruteira da cozinha da minha casa.

Mas isso não tem nada a ver.

Não posso mais ficar dando bobeira pro acaso.

Grãos 100% arábica me aguardam, na seção mais disputada desse lugar.

Vou sentindo todos eles pela válvula da embalagem.

Válvulas de desgaseificação são maravilhas subestimadas do mundo pós-moderno.

Leio atentamente cada verso.

Identifico as origens.

Faço cara de entendido e me conecto com quem eu nunca vi na vida. 

Viajo sem sair do lugar.

Do Sul de Minas ao Oriente Médio, a distância é de uma prateleira. 

Muito além do fetiche, isso é história.

E eu me perco nela, como um menino que já sabe o que quer da vida.

O sistema de som anuncia que os caixas estão encerrando as atividades.

Meu Deus, já são dez da noite. O tempo voa muito!

Hora de ir pra casa.

Olho para o meu carrinho de compras vazio.

Decido comprar qualquer coisa e vou inventando na minha cabeça qualquer desculpa plausível.

Vou chegar tarde mais uma vez.

"É esse trânsito maluco, o pessoal não dá a seta nunca".

"Um Tempra 92 caindo aos pedaços explodiu na minha frente e tive que acionar o Corpo de Bombeiros".

"Veio uma turma manifestar contra o exílio político, cerca de vinte mil pessoas e um robô. Deu até na tevê".

Minha cabeça não para nunca.

Acho que preciso de um café.

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