A gente sonha

A gente sonha que um dia isso tudo vai mudar.

A gente sonha em um dia ter resposta pra tudo.

A gente sonha acordado, pra não perder tempo ao fechar os olhos.

A gente sonha em poder sonhar mais.

A gente sonha com um coração vulcanicamente afetuoso pra chamar de nosso, capaz de nos proteger do mal e suas emboscadas perfeitas.

A gente sonha com o copo meio cheio, com a existência de unicórnios, com férias em um paraíso chamado Atlantis e outras caraminholas que suprem nossas faltas.

A gente sonha em ficar de pé e resistir, mesmo com tanta luta sendo travada no nosso hoje.

A gente sonha com o dia em que os imperativos vão perder a força que um dia demos a eles.

A gente sonha, e às vezes até já está vivendo o que foi sonhado um dia, sem saber explicar como tanta coisa se perdeu no meio do caminho.

A gente sonha em um dia ser melhor, mas esquece de sorrir pra luz do sol e pra cor viva que se apresenta todas as manhãs.

A gente sonha em falar coisas que estão entaladas há anos, mesmo quando o outro nunca se importou com uma dor que é só nossa.

A gente sonha em dar um nó no tempo, pra poder converter anos em meses, meses em dias, dias em horas, horas em minutos. Só que a verdade é mais cruel que simplesmente sonhar, meu amigo.

A gente sonha em poder errar e tentar de novo, num fluxo desesperadoramente frustrante que está longe de nos tornar mais humanos.

A gente sonha, sonha, sonha e perde as chances de ter tudo o que quiser na vida ao ir lá e simplesmente fazer.

A gente sonha muito e deveria parar de fazer isso.

Urgente, enquanto ainda há tempo pro que importa.