A volta tão (in)esperada
Cheguei em casa, estranhei o que vi. Tudo estava em seu devido lugar, menos eu.
Durante muito tempo, ignorei as mudanças que foram acontecendo em minha própria casa, em meu próprio quarto, em minha própria família.
Os retratos estavam na parede, como sempre estiveram. As cascas de maçã, de laranja e de pera estavam dentro de um prato, em cima do mármore da cozinha. Minha mãe havia acabado de descascar uma porção de frutas pra comer.
Quando subi, vi que meus livros continuavam na estante, todos eles em ordem alfabética ou por coleção. Assim como meus perfumes, separados em ordem de importância: os importados do lado esquerdo, os nacionais do lado direito (mania de pobre, se agarrar nessas coisas materiais). Minhas roupas, todas bem passadas e com ótimo estado. Nada pareceu ter mudado.
Reparei que uma coisinha, somente uma, mudou. A luz. Foi aí que eu consegui enxergar o que estava lá o tempo todo. Quando dei por mim, parecia ter acordado de um sono sedativo. Eu mesmo me sedei, tanto para minhas coisas quanto para o mundo, que permaneceu igual. Completamente igual ao que era antes de eu adormecer.
Na verdade eu não adormeci. Eu continuei até onde pude, perdendo contato com amigos, perdendo grandes encontros, perdendo vínculos de uma eternidade. Sumindo aos poucos, pouco a pouco disputando queda de braço com a depressão.
Aí eu acordei. Acordei com um abraço forte e sincero da minha mãe, dizendo que era bom contar comigo de novo por ali. Logo após veio minha irmãzinha, que me abraçou e despejou três ou quatro lágrimas em meu ombro magro e desajustado. Notei que ela já não é mais tão irmãzinha assim; virou uma menina-mulher.
Infelizmente não pude ter o mesmo afeto vindo de meu pai. Ao menos até onde sei, pois as madrugadas que passei dormindo não me dizem nada. Talvez ele tenha se cansado de ir me abraçar quando saía para trabalhar e eu nem notei, tamanho foi meu descaso. Mas sinto o carinho dele, sinto a preocupação dele mesmo com quatrocentos e vinte e seis quilômetros que nos distanciam um do outro.
Hoje eu entendo que perdi demais. Continuo tendo sequelas cruéis, nos jantares, na hora do almoço e até mesmo no café da manhã
Uma revolução emocional viria bem a calhar agora, que eu pudesse recuperar tudo que deixei lá atrás. Agora, quero cem anos
O filme continua, a vida não dá folga e cada vacilo pode custar muito caro. É bom voltar para quem realmente nos ama, pois no fim das contas é tudo o que nós teremos quando tudo desmoronar.
esse post me surpreendeu... já estava chorando por causa de um filme e seu post me fez chorar ainda mais! hahaha foi um dos melhores que eu li.. valeu a demora.. beijos
ResponderExcluirQuando acordamos de um sono assim parece que perdemos pessoas, amigos, família, tempo e todo o resto. Mas, não é nada irreversível, agora acordado quase tudo pode ser concertado.
ResponderExcluirMeldeus, você diz palavras lindas! Adorei seu blog :O
ResponderExcluirBom saber que você quer recomeçar.Amigos,os de verdade,esses você não perde jamais;a turbulência pode ser do tamanho que for,o tempo pode passar,mas eles sempre estarão te esperando de braços abertos.Desejo que você tenha muita força e que seus planos deem certo.Tenha uma ótima semana,e parabéns pela determinação e pelas palavras,você se expressa muito bem.
ResponderExcluirAssim como Bach, você tem um quê de gênio melancólico=)
ResponderExcluirLindas palavras. Com simplicidade você diz muito sobre si e muito sobre nós mesmos. Me encontrei em muitas coisas daqui.
ResponderExcluirbeijos :*
Que bom ter notícias suas. Você está escrevendo cada vez melhor, estou orgulhosa que tenha continuado. E as frases?
ResponderExcluirSobre mim, estou bem e indo atrás das minhas coisas. Me formei, comecei a fazer pós e estou direcionando meu lado profissional para a oratória, para as palavras (mesmo as escritas, que você sabe que adoro!).
E você?
Beijos, saudades.
Foiii dimais!!!
ResponderExcluiracorde e venha pra mim
esperarei sempre
rsrsrs
voce arrasou mais uma vez!!!