Setembro é sempre setembro

Alô, você aí do outro lado. Quer ouvir uma história? 

Talvez ela seja real, talvez não. Talvez também esteja fazendo morada na minha cabeça há tanto tempo que eu já tomei a liberdade de tê-la como verdade. Ainda tento entender ao certo o que é isso.

Era setembro, assim como é agora. Bom e velho setembro: tão certo como nunca, tão louco como sempre. 

Setembro molhado, úmido, chuvoso, irresistível. Eu tinha lá por dezesseis anos e morria de vontade de abraçar o mundo, sem saber que o mundo é grande demais para os meus braços tão magros e castos. E eu andava à toa, olhando lojas de discos e algumas outras vitrines pela cidade. Revirava o centro da cidade quem desfaz uma mala de viagem inteira tentando encontrar qualquer coisa.

Foi quando eu a vi, maravilhosamente despreocupada, andando pela calçada. Na mesma calçada em que eu estava, no mesmo lado. Na minha cabeça, fantasiei que ela estava na minha. Será que atirei pra algum lado e o tiro foi bem longe?

Ela era assim, totalmente deslumbrante. Como se tivesse passado apenas um mísero segundo até hoje, eu lembro bem de tudo: a roupa que ela estava usando, o perfume que exalava pelo ar (acho que o ar nunca me pareceu tão cheio de vida), o jeito que ela andava, a bolsa que ela levava a tiracolo. Também lembro bem do jeito que eu olhava para ela. Sei lá, parecia que eu nunca tinha visto nenhuma garota igual e nem nunca mais veria.

Meu coração batia descompassado, numa rotação que eu mal conseguia controlar. Ela se aproximava, mas não para falar comigo ou algo do tipo; ela só queria seguir seu caminho. Alguma coisa nela fazia com que eu precisasse saber sobre sua vida, seus sonhos, seus medos, suas manias, sua família, sua essência. 

Eu tinha essa vontade, mas o medo e o receio me impediam de dar o primeiro passo. Deixei ela passar e segui meu caminho também. Olhei para trás, somente para ter certeza de quão burro eu tinha sido por tê-la deixado partir sem nem ao menos ter tentado saber seu nome.

Para minha surpresa, ela virou para trás também no mesmo instante. Não só olhou, mas deu um sorriso que permanece até hoje na minha cabeça. Dentes bonitos, mas não totalmente certos. Por incrível que pareça, aquela pequena falha fazia com ela que se tornasse ainda mais atraente aos meus olhos. Senti calor, até tirei a blusa que estava usando. Pensei: "Uau, ela sorriu pra mim. É minha deixa! Vou lá falar com ela agora mesmo!". 

Só pensei, não fui. Acho que o sorriso dela bastou.

Nunca soube o nome dela. Durante alguns meses, fiquei tentando adivinhar. Não tinha dicas, não tinha pistas. Nada. Ao mesmo tempo, tinha tudo: eu tinha a imaginação, a vontade de saber quem era ela e sabia exatamente qual era minha desculpa por não ter ido atrás dela. Talvez ela tivesse namorado, talvez ela fosse muito mais velha que eu. Eu não sei nem nunca soube. Acho que também nunca vou saber. 

O que sei é que ela, anonimamente e estranhamente, mexeu comigo. Em um dia de setembro, ela mexeu comigo.

Pode ser que o nome dela seja Carla, ou Ana Paula, ou Bárbara, ou Bruna, ou Maria Eduarda, ou Flávia, ou Fernanda, ou Patrícia, ou Carolina, ou Júlia. Sei lá bicho. Pode ser que seja um nome diferente, mas já não sei se hoje me importa tanto assim. Ela se foi, sem nem ter vindo até mim. Mas deixei de lado o orgulho em tentar esquecer que essa história fez sentido algum dia.

Vai ver o que tinha que acontecer entre nós era só isso mesmo: cumplicidade, mãos trêmulas, coração acelerado, troca de olhares, sorrisos, calor. Vontade, daquelas que dão e passam, sem mais nem menos.

Setembro, sempre me pregando uma peça. E eu, como sempre, adorando cair que nem um patinho.

Comentários

  1. cara, eu gosto tanto de ler as suas histórias, tu escreve muito bem fabinho *-*.

    Um dia tu encontra essa garota irmão, setembro ainda não acabou, pode ser nesse setembro :B


    abraços

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  2. Adooooooooorei @@ você escreve muito muuito bem fáh @@

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  3. Ai mto lindo o texto!!
    adorei o comentario do o seko!uasdhusahusadh
    seu eu conseguisse escrever 1/3 do q vc escreve eu tava feita!!=D
    escreve nao eh o meu forte!!
    mas como sempre vc ta de parabéns!
    bjaoo ;**
    @Deinhapm

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  4. Nossa, situação parecida com a minha
    + espero fazer alguma coisaa

    amei o textoo
    me fez lembra de tanta coisa q aconteceu comigo nesse setembroo..
    ; þ

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  5. Tudo que você escreve é perfeito!!
    Talvez por você ser sincero e escrever o que realmente pensa e sente.

    Adoro os teus textos!! *-*

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  6. ooi =)
    eu achei seu blog mexendo por ai ;p
    eu gostei muuito do seu texto , é ótimo *o*
    eu nem consigo escrever assim =/
    eu tenho blog se quiser ir dar uma olhada ;p mas tá praticamente abandonado =/

    www.lua27.zip.net

    parabéens =) seu texto com certeza me inspirou a escrever mais =D

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  7. aah, o tipo de texto que gosto de ler e ficar imaginando coisas enquanto isso =)
    adorei meeesmo! ;D

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  8. muuuuuuito bom o post meu ;O tu escreve muito bem (:

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  9. eu gosto desse, mas o meu preferido ainda continua sendo Eu, por mim mesmo.
    me encanto a cada palavra escrita, fah ;*

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  10. Eu imagino tudo quando eu leio, eu amo demais seu blog. Não,não saio daqui!

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