Pseudo-qualquer-coisa

Um dia, já quis ser jogador de futebol. Não demorou muito, quis ser médico. Cansei bem rápido e passei a sonhar em ser ator. Não, ator não daria certo. Muito menos modelo, que eu já tentei ser uma vez também.

Publicitário, talvez eu seja. Tenho trabalhado - na realidade, estudado - pra que isso aconteça. Eu, que já quis ser muito, quase nunca fui alguma coisa. Eu, que quis ter tudo, ainda não consegui ter praticamente nada. Eu, que já tive muito o que dizer, também já tive dias que qualquer palavra não valia a pena ser dita.

Mas continuo sonhando, imaginando que o fim do começo possa ser bem melhor que o começo do fim. E eu luto, mesmo sendo golpeado tantas vezes.

Luto por dias mais vivos, que inclusive já vivi algum dia. Deixá-los pra trás talvez tenha sido um dos meus maiores erros. Talvez eu tenha sonhado muito quando menor e, como nada se consolidou, perdi a vontade de sonhar. Afinal, bater com insistência na mesma tecla é sempre considerado um erro grave pros outros. Coisa de gente burra. 

Mesmo assim, eu luto. Luto, de alguma forma, para não ficar de luto por mim mesmo. Luto para desfazer essa mancha vermelha que aparece nos meus sonhos frustrados. Luto também para afogar velhos sentimentos, do mais alto nível de nostalgia. Porque, se a nostalgia nos remete à tristeza, pra que pensar? E o que fazer se, mesmo sem querer, a gente pensa? Isso aí corrói a gente por inteiro, porra. 

Na verdade, a gente se faz disso tudo: sonhos não realizados, conquistas que quase nunca nos agradam, anseios pobres. É isso. A gente é puro egoísmo. Ô, racinha do cão mesmo.

Mas será que se a gente percorrer milhas e milhas de um caminho infeliz, vai ter alguma recompensa? Por trás de um cenário empoeirado, com móveis de segunda mão, será que existe um pano velho e rasgado que cobre algo nunca antes visto? 

Um facho de luz que todo mundo pode ter direito de ver seria o prêmio pelo esforço de ter suportado tanta dor ao longo da jornada. Ou um lugar ao sol, que é mais que uma vida feita, é mais que um plano que deu certo, é mais que o que todos procuram: é a chave de tudo.

"Deus vai dar aval, sim 
O mal vai ter fim
E no final, assim, calado
Eu sei que vou ser coroado 
Rei de mim."

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