Cinza

Por aqui não existe muita perspectiva, não. 

Bem pelo contrário. Tudo parece despedaçado, desfigurado, destruído. 

Chama a atenção que isto acontece sem muito esforço e também sem ninguém ordenar. Simplesmente acontece. Vai ver eu pedi pra isso acontecer e não lembro quando, sei lá. É preciso tomar cuidado com o que a gente deseja, principalmente depois de algumas boas doses de uísque sem gelo.

Foi-se o tempo em que o colorido fazia sentido, que o perfume que exalava tinha o poder de revigorar e proporcionar doçura pelo ar. Aquilo era mais que entendimento, aquilo era vontade de viver. Vontade de sentir o novo, vontade de procurar, vontade de achar a qualquer custo. Vontade que ia além do simples querer. Bota além nisso.

É a razão disso é que tinha você. Era você que fazia tudo permanecer vibrante, ao mesmo tempo trazia uma harmonia bonita de se ver. 

Agora pouco importa, mas mesmo assim eu vou falar: sinto sua falta, como se cada instante mal vivido passasse rente a mim, me trombando, esnobando meu instinto e minha dor.

E eu me pergunto, insistente, impaciente, desgraçadamente chato se, do tempo que me foi pedido, ainda falta muito pra chegar a hora. 

Os minutos passam, nenhuma resposta vem. E o vazio é incapaz de me preencher. O vazio que se resume a todas as outras coisas que não são você. Sem chão.

Ao meu redor, caixas e objetos que lancei por aí, que quis quebrar em mil pedaços. Em minha mente, um mar imenso de incertezas que daria tudo para chegar a uma ilha qualquer de esperança.

Se você voltar algum dia, me ajuda a arrumar meu mundo? 

Você sempre teve o dom de fazer isso.